[ Coração Habitado ]

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam
que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

in Até Amanhã
de Eugénio de Andrade


22.11.08

Douro, Faina ...











Anikibébé. Anikibóbó. Passarinho. Tótó.
Berimbau. Cavaquinho. Salomão. Sacristão.
Tu és polícia. Tu és ladrão.










...
"Gosto do Aniki-Bóbó, que não é um filme para se ver de uma só vez. É preciso ter uma grande maturidade...Ele foi precoce no cinema mundial com esse filme...". 

Agustina Bessa-Luís, in jornal Público, 98-12-11

Aniki-Bóbó é um dos filmes mais perfeitos de Manoel de Oliveira. Um dos mais inquietantes porque é orgulhoso da sua candura. Compreende-se que pela vida fora, uma longa vida de cineasta o espera, haverá sempre aquele juramento, aquele velar de armas que é a criança constante e séria na sua descoberta do mundo, do amor, do desencanto e na reinvenção da sede que é a vida". 
Agustina Bessa Luís, O Arcanjo Gabriel, 
Catálogo do Festival de Turim · 2000

20.11.08

Guerra & Paz



















                             Porto | Lisboa

António Eça de Queirós | António Costa Santos

13.11.08

101









Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos de século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.

José de Almada Negreiros

Quem não lê, não quer saber, quem não quer saber, quer errar.

Padre antónio Vieira
...

O Fabuloso
















"O meu maior desgosto, é um desgosto em relação ao fado, foi gravar discos, os discos vieram industrializar o fado, o fado não se deve vender, eu canto porque a minha alma o ordena, canto como se rezasse. Não gosto de cantar para máquinas. Quero ver o público, analisar as suas reacções, ver se estão a gostar".

9.11.08

Eugénio de Andrade | Coração Habitado













VELHA MÚSICA
Corriam pelas ruas, era frequente um grito subir no céu, parecia então um milhafre a pairar, depois apagava-se, quase triste. Corriam ao encontro do vento, ficavam com febre de tanto o perseguirem ou dobrarem pela cintura. Apenas com as derradeiras luzes entram em casa, deitam então a cabeça no regaço das mães, fulminados pelo sono. Até a manhã entrar, não se sabe bem por onde, elas não despregam os olhos daquelas pálpebras pesadas. Só então os confiam à luz.

6.11.08

Pepe | Jato














Basicamente a história da PEPE inicia-se em 1928 quando José Augusto Júnior começa por fabricar brinquedos em folha e madeira. Em 1930 cria uma nova fábrica cabendo-lhe o mérito de ter sido o primeiro a fabricar um brinquedo com corda de fita em Portugal.
Descendendo directamente da antiga oficina de José Augusto Júnior, a Industrial de Quinquilharias de Ermesinde, afirmou-se desde a sua fundação em 1946 e até pouco depois do 25 de Abril de 1974, como a maior produtora industrial de brinquedos em Portugal. Só para terem uma ideia na década de 50 cerca de 80 artífices já fabricavam em serie mais de uma centena de brinquedos.

Em 1955, já sob a marca JATO, inicia-se o fabrico de brinquedos em plástico e folha em novas instalações. Nos anos 70, já sob a direcção dos filhos de José Augusto Júnior, a marca passa a denominar-se PEPE (Penela e Penela). Em 1977 a PEPE passa a dedicar-se exclusivamente ao plástico.

José Augusto Júnior, um dos pioneiros e um dos mais geniais produtores de brinquedo em folha português, morre em 1984.
As actuais normas de segurança impediram que estes brinquedos continuassem a ser comercializados, tendo a sua produção sido descontinuada, sendo hoje objectos de colecção.

5.11.08

Azulejo















A Ratton Cerâmicas instalou-se nas cavalariças do Palácio Marquês de Pombal e iniciou em 1987 um projecto no âmbito da produção cerâmica. O desafio foi o azulejo, que na produção industrial se viu limitado às "cópias do antigo" ou degradado para níveis cada vez mais afastados das suas origens. A aposta consiste, assim, na revalorização do azulejo: da sua linguagem e do seu emprego. A este sedutor processo, juntam-se personalidades das diferentes áreas da criação artística - pintura, escultura, desenho, arquitectura, literatura...
Entre outros, Paula Rego, Lourdes Castro, Júlio Pomar, Menez, Bartolomeu dos Santos, Costa Pinheiro, Sara Maia, Jorge Martins, Graça Morais, Pedro Proença, Álvaro Siza, João Vieira, Maria José Oliveira, participam da mesma paixão - o Azulejo.

1.11.08

Júlia Ramalho | Barcelos

















Júlia Ramalho, barrista portuguesa nascida em São Martinho de Galegos-Barcelos a 3 de Maio de 1946. Neta de Rosa Ramalho, discípula desde muito nova, herdou da avó o gosto pela olaria e o talento criativo.
Medusas, bacos, diabos trovadores, figuras fantásticas, o Padre Inácio e Os sete pecados mortais, o ouriço ....

Tabacaria

















Álvaro de Campos nasceu em Tavira no dia 15 de Outubro de 1890 à 1.30 da tarde. 
Teve “uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe Latim um tio beirão que era padre.”
De tipo vagamente judeu português, com a pele entre branca e morena, cabelo liso e normalmente apartado ao lado, usa monóculo.

Grupo Novo Rock
















O primeiro Long Play dos GNR, "Independança" é editado em 1982.
O disco foi um êxito em termos de crítica e um fracasso comercial...
Agente Único, O Slow Que Veio Do Frio, Dupont & Dupont, Hard Core, The Light, Bar Da Morgue, Independança e... Avarias.

Avianense

















Fundada em 1914, a Avianense é a mais antiga Fábrica de Chocolates em Portugal

"As receitas, um verdadeiro património d'Avianense, são as mesmas, mas acho que conseguimos melhorar a qualidade do produto final", afirma o empresário Luciano Costa , que diz ainda recorrer às mesmas máquinas que laboravam na antiga fábrica, com cerca de 70 anos, tantos como o Imperador, que agora surge com novo fôlego. E por falar em receitas, a de degustação do Imperador é dada pelo próprio: "deve-se meter o bombom todo na boca e deixar que derreta durante alguns segundos, para, depois, se trincar a amêndoa no interior".

29.10.08

Ambar

















Não distingo se sou eu
Que estou ouvindo, ou se é
Só um som de água que é meu
Porque está aqui ao pé.

Mas o som de água persiste
Para além de quem eu sou.
Penso: sou dormente e triste.
Oiço: quem fui despertou.

Fernando Pessoa
2 - 10 - 1934

26.10.08

Deolinda














"O seu nome é Deolinda e tem idade suficiente para saber que a vida não é tão fácil como parece, solteira de amores, casada com desamores, natural de Lisboa, habita um rés-do-chão algures nos subúrbios da capital. Compõe as suas canções a olhar por entre as cortinas da janela, inspirada pelos discos de grafonola da avó e pela vida bizarra dos vizinhos. Vive com 2 gatos e um peixinho vermelho..." 

Deolinda é um original projecto de música popular portuguesa (MPP), inspirado pelo fado e as suas origens tradicionais. Formado em 2006 por 4 jovens músicos com experiências musicais diversas (jazz, música clássica, música étnica e tradicional), procuram, através do cruzamento das diferentes linguagens e pesquisa musical, recriar uma sonoridade de cariz popular que sirva de base às composições originais do grupo. 

Adão Almeida | Lazarim


















A vila de Lazarim, no Concelho de Lamego, festeja o Carnaval, de dois a cinco de Fevereiro, com os trajes e máscaras tradicionais.

Considerado um dos festejos carnavalescos mais típicos do país, na vila de Lazarim, no Concelho de Lamego, os caretos saem à rua, mostrando uma manifestação de encenações ancestrais da cultura portuguesa.

O trabalho dos artesãos e das gentes locais, fiéis a um passado comum exigente, elabora de forma artesanal as máscaras e os trajes dos Caretos de Lazarim, são ainda preparados em segredo os testamentos, famosos pelo seu grau de malícia satírica, para serem lidos na Terça-Feira Gorda.

Neste dia, as comadres e os compadres envergam as suas máscaras esculpidas em madeira de amieiro e trajes típicos, ocultando a sua identidade e procedendo ao ancestral jogo de rivalidade entre sexos.

O Entrudo de Lazarim, termina com a leitura dos testamentos, seguindo-se a morte do compadre e da comadre no fogo e a oferta de uma feijoada e caldo de galinha a todos os presentes.

25.10.08

Áurea Praga


















Prata | Feltro | Zircónias

Susana Teixeira
















"Células"

Prata | Papel | Resina

17.10.08

Manel Cruz

















“Foge Foge Bandido é um projecto de longa data, que foi ficando com o tempo de sobra. São músicas que eu fiz, algumas têm 10 anos e que fui gravando e agora estou a acabar o trabalho. Fui convidando, aparecia gente em minha casa, aquilo no início não era um projecto, eram músicas, aparecia um gajo em minha casa que até podia nem ser músico e íamos curtir para o teclado, gravávamos umas coisas. Ou tinha uma música e gravavam um teclado por cima. Muitas eram coisas que já tinha feito, outras eram brincadeiras que fazíamos numa noite e que eu depois desenvolvia, então acaba por ser um projecto experimental, apesar de serem canções na mesma, porque, pá, não consigo separar-me das canções. Canções com arranjos muito mais diferentes dumas músicas para as outras. Ali vale um bocado tudo, não é como nos Pluto que não vale, mas é um projecto experimental, digamos assim, mais caseiro.”

Júlia Côta | Barcelos
















Filha da ceramista famosa Rosa Côta e neta de Domingos Côto (o pai do galo de Barcelos) , Júlia Côta entrou cedo na arte da argila, ajudando a mãe em seus trabalhos e aprendendo com ela as técnicas e as inspirações deste tipo da arte. Modelando a vida na argila, e dando rédea livre à imaginação para produzir figuras de animais, retratos e figuras religiosas, geralmente reinterpreta-as numa mistura do respeito e imaginário, ou em representação de cenas do trabalho e do jogo da vida rural. Estes são alguns dos exemplos da variedade da simplicidade dos objectos, dos temas e das cores do que nós chamamos normalmente as figuras de Barcelos.
Júlia Côta é uma de poucas artistas que cría, recria e pinta as FIGURAS, o que lhes dá um carácter do originalidade possuindo uma marca muito pessoal.

15.10.08

Claus | Ach. Brito

















História de uma Indústria Portuguesa | Século XIX
1887 - Fundação
Surgiu no Porto a primeira fábrica nacional de sabonetes e perfumes, fundada por dois alemães radicados em Portugal: Ferdinand Claus e Georges Ph. Schweder. Nesta época, estes produtos eram importados e vistos como um privilégio das classes sociais mais abastadas.

Inicialmente, os produtos da Claus & Schweder tinham a marca F.P.C. – iniciais de “Fábrica de Productos Chimicos CLAUS & SCHWEDER, SUCRS.” –. São atribuídos nomes estrangeiros a todas as linhas, para ir de encontro aos gostos da época.

1903 - Expansão | 1918 – Nascimento da Ach. Brito | 1940/50 – Liderança no Mercado Nacional | Anos 90 – "Bathroom chiq"

10.10.08

Paredes

" Em Julho de 1993, já seriamente afectado pela doença que o havia de imobilizar, Carlos Paredes começou a gravar um novo álbum nos estúdios de Paço d’Arcos da Valentim de Carvalho. Em pelo menos uma das sessões registadas acompanhava-o Fernando Alvim, um velho amigo e o viola notável com quem tinha partilhado o essencial da sua discografia, nas restantes seria a vez de Luísa Amaro, a sua companheira dos últimos anos e nestes também ela um pilar da sua carreira e da sua vida. No estúdio estava Hugo Ribeiro, o mestre incontestado dos técnicos de som portugueses durante décadas. Carlos Paredes estava entre amigos e entregue mais uma vez a profissionais excelentes.
Ao longo dos sucessivos períodos de gravação efectuados Paredes gravou um total de oito composições novas. Fisicamente debilitado e com plena consciência das limitações que isso acarretava ao domínio técnico absoluto que sempre caracterizara a sua relação com a guitarra, foi multiplicando até à exaustão os takes de cada obra: dez no “Mar Goês”, doze na “Canção para minha Mãe”, quatorze nos “Arcos do Jardim”. Em alguns casos eram entradas de alguns compassos em breve interrompidas, noutros interpretações integrais logo repetidas por os dedos o terem traído numa passagem rápida menos limpa ou num ornamento menos claro. Por vezes percebe-se que houve uma pausa entre takes para uma audição insatisfeita, noutras ouvimo-lo mergulhar com uma precipitação quase angustiada de uma versão para a seguinte.
Ouvir hoje a sucessão completa destes registos é uma experiência emocional tremenda. Sentimo-nos testemunhas directas de um combate feroz e desesperado de um grande criador com o seu próprio corpo: a respiração, que os microfones captam impiedosamente, é ofegante, e há no som da guitarra uma tensão por vezes violenta, como se Paredes quisesse compensar com verdadeira raiva a firmeza que as mãos insistiam em negar-lhe. Mas ao mesmo tempo é fascinante constatar como este combate desigual vai sendo ganho a pulso e como de versão para versão os dedos vão respondendo melhor, as frases se vão lançando, as obras ganham corpo e se afirmam em toda a sua inspiração. Há casos em que ao longo deste processo a própria composição foi evoluindo, com alterações mais ou menos significativas na estrutura de cada peça, desde realinhamentos na sequência das respectivas secções a um crescente amadurecimento do desenho melódico e até mesmo a mudanças de tonalidade.
Carlos Paredes não pôde já terminar este álbum, onde em circunstâncias normais as oito peças gravadas poderiam sem dúvida ser ainda objecto de novas transformações, no plano criativo, à procura da sua forma definitiva, e de novas versões, no plano interpretativo, em busca de uma segurança técnica superior. Por outro lado, é de admitir que outras composições inéditas se juntassem progressivamente às já gravadas. Quando as gravações terminaram, estava-se, pois, assumidamente, perante um trabalho incompleto, em termos tanto da sua dimensão última como do seu próprio processo de maturação, e sobretudo perante um trabalho produzido em circunstâncias de evidente limitação física do seu protagonista face à sua plena forma anterior. Nestas condições, a decisão de o editar ou não revestia-se de um melindre artístico e ético tanto maior quanto o autor não a podia já tomar ele próprio.
Passados os anos, e confirmada a trágica irreversibilidade do estado de saúde de Carlos Paredes, impunha-se uma decisão, e foi então que Luísa Amaro, que se considerava demasiado envolvida afectivamente para ter sobre este dilema a necessária distanciação crítica, e o editor David Ferreira, que desde o início sobrepôs a qualquer interesse de ordem comercial a avaliação do mérito artístico intrínseco do projecto, acabaram por decidir, para minha grande surpresa, pedir-me uma opinião profissional independente sobre a matéria e confiar-me uma cópia integral do conjunto do material gravado.
Foi com verdadeira angústia – confesso – que me preparei para ouvir as gravações, temendo o pior. Para lá de ter construído durante anos com Carlos Paredes uma relação pessoal que sem ser propriamente de intimidade foi sempre extremamente cordial e mesmo de grande partilha artística, com longas e estimulantes conversas sobre todos os tipos de Música, do repertório clássico e romântico ao Manerismo e ao Barroco musicais e destes ao universo do fado de Lisboa e de Coimbra, tenho desde que me conheço uma admiração sem limites por Carlos Paredes, considero a sua discografia uma referência decisiva da Música e da Cultura portuguesas do século XX, em qualquer género, e lembrava-me ainda muito bem de o ouvir ao vivo, fascinado, no auge da sua carreira, mas recordava-me igualmente da fragilidade progressiva a que fora assistindo em algumas das suas derradeiras apresentações públicas. Não era essa a imagem final que quereria ver perpetuada em disco de um músico de semelhante estatura.
Da experiência da audição concentrada e seguida de todo o material disponível, dos takes interrompidos às sucessivas versões integrais de cada peça, depressa me ficou, contudo, uma sensação de enorme felicidade. Apesar da luta desesperada evidente que Carlos Paredes travava consigo próprio naquelas sessões de 1993 e das limitações técnicas incontornáveis a que a doença já então o submetia, a sua Música impunha-se com uma força verdadeiramente mágica logo a partir dos primeiros compassos – pujante de inspiração e de rasgo, deslumbrante no seu lirismo inconfundível. Lá estava aquele impulso rítmico único, partindo das anacrusas iniciais suspensas no tempo para depois se despenharem no seu tempo forte de resolução e lançarem a partir daí frases longas e ondulantes, sempre ao sabor de uma dicção musical perfeita. Lá estavam aquelas tonalidades menores carregadas de melancolia, salpicadas aqui e além de traços modais e de passagens cromáticas que tornavam o desenrolar da melodia num mistério sempre imprevisível. Lá estava, mesmo que agora por vezes transformado num grito de pássaro ferido, aquele som intenso, vibrado, plangente, e lá estava até, aqui e além, ainda que dramatizado pelo esforço transparecente, um virtuosismo ocasional ainda surpreendente na sua musicalidade inteligente.
Como sucede frequentemente com as suas obras anteriores, as oito peças que Paredes aqui deixou gravadas têm uma estrutura flexível em forma de arco, com os sucessivos temas a encadearem-se uns nos outros, dentro de cada uma delas, de forma muito livre, como numa rapsódia, ou a disporem-se segundo esquemas de repetição simples. Em vários casos havia para cada obra, de entre as diversas versões registadas, pelo menos uma onde os problemas técnicos ocasionais dos takes anteriores tinham sido completamente ultrapassados e que podia, por isso mesmo, ser reproduzida integralmente no seu estado original. Nos outros casos, a própria natureza seccional das peças tornava fácil a montagem de uma versão final a partir de dois – ou no máximo de três – dos takes realizados, sem que essa montagem elementar implicasse qualquer manipulação excessiva de estúdio. Uma vez decidida a edição viria esse a ser o trabalho – excelente, de resto – de Luísa Amaro e do produtor Paulo Junqueiro.
Ouço agora mais uma vez o resultado final deste trabalho, livre das versões iniciais que constituem um documento humano fascinante mas que de algum modo obscurecem o grau de perfeição possível corporizado nesse resultado. Ao fazê-lo regressa-me insistentemente a ideia de que Carlos Paredes, plenamente ciente, já então, da gravidade do seu estado de saúde geral e sobretudo das dificuldades técnicas com que se debatia, não poderá por certo ter deixado de sentir que estas seriam muito provavelmente as suas últimas gravações. Nessa perspectiva é de sublinhar muito em particular a maneira como esta Música, privada de um virtuosismo que pudesse valer por si para lá de qualquer outra lógica de construção musical, se depura de tudo o que não é essencial para assentar apenas numa inspiração concentrada onde nada é acessório. E chama-nos também a atenção o modo como Paredes parece regressar aqui a um universo que é o das suas reminiscências de infância, evocando as figuras tutelares da Mãe e da Tia, os espaços familiares da Coimbra da sua meninice, e mesmo, de alguma forma, os sons tradicionais das baladas de Artur e Gonçalo Paredes, seu Pai e seu Avô, tudo isto com um olhar melancólico mas cheio de serenidade que nem a tensão dolorosa que marca alguns momentos da sua execução consegue perturbar.
Por tudo isto seria imperdoável que o que constitui verdadeiramente o testamento musical de Carlos Paredes não saísse a público, como documento artístico e humano de uma força emocional rara, para nos dar esta visão final que fecha o círculo de um meio século de carreira. Uma carreira que nos ajudou como poucas neste século a reencontrarmo-nos conosco próprios e com a nossa identidade de portugueses."

RUI VIEIRA NERY
Universidade de Évora

5.10.08

2.10.08

Carlos Paredes

Portugal...















"Tenho pena de não poder falar. Eu só toco guitarra, não é?"



Carlos Paredes [ Coimbra, 16 de Fevereiro de 1925 | Lisboa, 23 de Julho de 2004 ] Compositor e guitarrista português.
Foi um dos grandes Guitarristas e é um símbolo ímpar da cultura portuguesa. É um dos principais responsáveis pela divulgação e popularidade da guitarra Portuguesa e grande compositor.

Conhecido como O mestre da guitarra portuguesa ou O homem dos mil dedos.

Filho, neto e bisneto dos famosos guitarristas Artur, Gonçalo e José Paredes, começou a estudar guitarra portuguesa aos quatro anos com o seu pai, embora a mãe preferisse que o filho se dedicasse ao piano; frequenta o Liceu Passos Manuel, começando também a ter aulas de violino na Academia de Amadores de Música. Na sua última entrevista, recorda: "Em pequeno, a minha mãe, coitadita, arranjou-me duas professoras de Violino e piano. Eram senhoras muito cultas a quem devo a cultura musical que tenho".
Em 1934, muda-se para Lisboa com a família, e abandona o violino para se dedicar, sob a orientação do pai, completamente à guitarra. Carlos Paredes fala com saudades desses tempos: "Neste anos, creio que inventei muita coisa. Criei uma forma de tocar muito própria que é diferente da do meu pai, do meu avô,bisavô e tetratavô".
Carlos Paredes inicia em 1939 uma colaboração regular num programa de Artur Paredes na Emissora Nacional e termina os estudos secundários num colégio particular. Em 1943 faz exame de admissão ao Curso Industrial do Instituto Superior Técnico, que não chegou a concluir e inscreve-se nas aulas de canto da Juventude Musical Portuguesa, tornando-se em 1949 funcionário administrativo do Hospital de São José.

Em 1957 grava o seu primeiro disco, a que chamou simplesmente "Carlos Paredes".

"Quando eu morrer, morre a guitarra também.
O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele.
Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer.”

Carlos Paredes

Desígnio Alentejano
















Biscoitos artesanais Alentejanos - Limão, Canela, Açúcar e Azeite.

Castelbel

Porto














Aromas com tradição...

Rita Morais | Alentejo


















«o que está além do Tejo»

1.10.08

Ana Ventura

















Ana nos papéis das maravilhas

Simple




30.9.08

Maria Madeira






Maria Luísa da Conceição Palmela | Estremoz

















Maria Luísa da Conceição - "pela dignificação dos bonecos de Estremoz”.

Maria Luísa da Conceição nasceu na cidade de Estremoz em 1934. Desde o seu nascimento que tomou contacto directo com o barro, já que seu pai era neto do fundador da Olaria Alfacinha (1868 -1995), Caetano Augusto da Conceição. Seu pai, mestre Mariano da Conceição, além de um exímio oleiro, foi quem fez renascer os bonecos de Estremoz, por intermédio de Sá Lemos, director da Escola de Artes e Ofícios de Estremoz, obtendo os conhecimentos para tal de uma velha bonequeira chamada Ana das Peles.
Depois da morte de seu pai (1959), foi sua tia Sabina Santos quem tomou nas mãos a continuidade da tradição bonequeira, e sua mãe, Liberdade da Conceição, um ano depois, decide também ela começar a modelar. Foi aos 6 anos de idade que Maria Luísa ajudou pela primeira vez sua mãe a pintar, quando esta preparava um conjunto de bonecos para irem para a Exposição do Mundo Português, em 1940.
Mais tarde, já nos anos 80, após sua tia Sabina se reformar, Maria Luísa da Conceição ocupa a antiga oficina desta na Rua Brito Capelo, deixando de fazer os bonecos na sua cozinha, como até aí tinha feito. Começa, então, de forma mais sistemática, a reproduzir os bonecos que tinha visto gerações da sua família fazerem.

A qualidade do seu trabalho foi reconhecido em Vila do Conde, no ano de 1991, com o 1º Prémio para melhor peça de artesanato, e em Janeiro de 2007 o 1º prémio para melhor peça na Exposição de Presépios, promovida pelo Museu de Viana do Castelo.

Deste 2007 possui a Carta de Reconhecimento de Artesãos do Concelho de Estremoz.
Em Agosto de 2008 recebeu a Medalha Prata de Mérito Municipal, da parte da Câmara Municipal de Estremoz.

Nacional e transmissível

Portugal















"Neste livro, o autor, Eduardo Prado Coelho, escreve sobre objectos, comportamentos, locais emblemáticos ou características que formam o que poderíamos chamar a idiossincrasia portuguesa."

Confiança

Braga















A Saboaria e Perfumaria Confiança foi fundada em Braga, Norte de Portugal, a 12 de Outubro de 1894, por Silva Almeida e Santos Pereira.

Inicialmente especializada no fabrico de sabão do tipo offenbach, rapidamente se criou uma associação a qualidade aos produtos da Confiança. Tal permitiu atingir uma reputação invejável. A empresa vendia sobretudo em Portugal e nas então colónias Portugueses.

No início do século XX, os produtos de Perfumaria e Cosmética usados na altura eram maioritariamente importados, não havendo capacidade e domínio do sector em Portugal.

A reputação alcançada no sabão, permite à Confiança emancipar-se e inverter tal situação. É desta forma que empresa surpreende o mercado com produtos de cosmética de elevada qualidade, fabricados em Portugal. Em 1910 são desta forma lançadas as primeiras marcas próprias, com designs e fórmulas originais adaptadas. Sinal de qualidade e de reconhecimento que permitiu, juntamente com o fim da 1ª Grande Guerra, um novo período de forte expansão na Confiança, e que se traduziu no desenvolvimento de negócios, no aperfeiçoamento técnico dos aspectos produtivos e na conquista de novos mercados. Assim se concretiza a ampliação das instalações fabris, que incluem uma tipografia e uma cartonagem, onde se produziam todas as embalagens.

Em 1919, a gama de produtos produzidos e comercializados pela Confiança extendia-se a sabonetes perfumados, finos, transparentes, pó de arroz, águas de colónia, sabonetes medicinais, extractos extrafinos e óleos provenientes das então colónias Portuguesas.

A partir de 1920 a presença dos produtos Confiança atingia já todo o território nacional incluindo as ilhas dos Açores e da Madeira. A investigação e o desenvolvimento dentro da Confiança culmina com o registo de várias patentes de processos de fabrico e formulações químicas.

Em 1928 fabricavam-se cerca de 150 marcas diferentes de sabonetes, pó de arroz, cremes, pastas dentríficas, stiques de barbear, águas de colónia, loções e essências.

Nos anos 80 a Confiança começa a desenvolver novos cosméticos, adaptando fómulas e oferecendo outras novas, em especial nas formas líquidas de gel de banho e champôs perfumados, como resposta aos novos estilos de vida que se começam a impôr e ao pedido incessante de novos produtos por parte dos seus clientes.

A melhoria dos produtos existentes, em termos de embalagem e de oferta, assim como o desenvolvimento de novos, têm vindo a ser uma constante na Confiança. Respeitando sempre as origens e os métodos tradicionais, passados entre gerações.

As influências artísticas da Art Nouveau e da Art Déco que se fizeram sentir nos anos 20, estão ainda bem patentes nos produtos clássicos da Confiança. Reflectindo-se, por exemplo nos originais cunhos usados para dar forma aos sabonetes. Este foi e continua a ser um passo importante de todo o processo de criação e desenvolvimento dos novos produtos. A combinação da forma, às características do sabonete e à embalagem, é uma arte na Confiança passada entre gerações. Assim se conserva toda a sua essência.

29.9.08

Mariela Dias






















" Cor, forma, textura, desenho... e surgem aquelas que tudo podem levar e guardar, deixando transparecer emoções, sentimentos repletos de cor e albergando segredos.
Reflecte-se uma leitura de pormenor da cultura portuguesa, com incidência nos desenhos de motivos florais – harmoniosos, fluidos – que se conjugam com novas técnicas e materiais actuais, criando um objecto de uso diário mas que transmite uma certa elegância capaz de as transportar para uma realidade distinta, mantendo o conceito. Uma forma delicada e feminina, numa extensão do próprio corpo... "

Mariela Dias | Gonçalo Gonçalves

28.9.08

AML · Armindo Moreira Lopes & Filhos, Lda.


















Armindo Moreira Lopes (Ermesinde/Alfena), produtor de brinquedos em Portugal, nos anos 40 / 70, é o último dos fabricantes a manter todos os cunhos dos brinquedos de chapa, 365 – tantos quanto os dias do ano.

Liliana Guerreiro
















A renovada arte da filigrana.

António Ramalho | Barcelos

















Rosa Ramalho, Júlia Ramalho, António Ramalho - 3 gerações

Aliança Artesanal

Minho
















É provável que a origem dos "lenços dos namorados" ou "lenços de pedidos" esteja nos lenços senhoris do sec. XVII - XVIII, adaptados depois pelas mulheres do povo, dando-lhe consequentemente um aspecto característico.
Antes de tudo, eles faziam parte integrante do traje feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa. Eram lenços geralmente quadrados, de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.
Mas não é enquanto parte integrante do traje feminino que nos interessa , mas a sua outra função, não menos importante, e da qual vem o nome: a conquista do namorado.

A moça quando estava próxima da idade de casar confeccionava o seu lenço bordado a partir dum pano de linho fino que porventura possuía ou dum lenço de algodão que adquiria na feira, dos chamados lenços da tropa.
Para realizar esta obra, a rapariga utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz, adquiridos na infância, aquando da confecção do seu marcador ou mapa.

Depois de bordado o lenço ia ter às mãos do "namorado" ou "conversado" e era em conformidade com a atitude deste de usar publicamente ou não, que se decidia o início duma ligação amorosa.

Os lenços carregam consigo, por isso, os sentimentos amorosos duma rapariga em idade de casar, revelados através de variados símbolos amorosos como a fidelidade, a dedicação, a amizade, etc.Estes lenços eram originariamente em ponto de cruz, e por ser um ponto trabalhoso obrigava a bordadeira a passar, durante muitas semanas e mesmo durante meses os serões na sua confecção.

Como a escassez de tempo passou a ser um facto na vida moderna, a mulher deixou de ter tanto tempo para a confecção destes lenços, o ritmo de vida tornou-se mais intenso e a mulher teve que solucionar este problema adoptando no bordado outros pontos mais fáceis de bordar.
Com esta alteração outras se impuseram no trabalho decorativo dos lenços dos namorados: o vermelho e o preto inicial vai dar origem a uma grande quantidade de outras cores, e com elas novos motivos decorativos se impuseram. Os lenços não deixaram porém de ser ainda mais expressivos, acompanhados muitas vezes de quadras de gosto popular dedicados àquele a quem era dirigida tão grande fantasia: O Amado.

Mistério [Filhos] | Barcelos














Mistério da terra, do barro, da tradição que inspirou modernistas, ...

25.9.08

Maria Cristina Pavia

Alentejo















80 anos de poder criativo - a arte do "fuxico"

... e a sua origem etimológica.
O termo chegou ao Brasil, vindo de África, da língua quicongo, uma língua africana falada pelos bacongos nas províncias de Cabinda.
Na sua origem diz-se “fuuzya” e significa “mexericar”, “segredar”. A palavra fundiu-se com o brasileiro e ficou “fuxico” com este significado. Resta saber se “fuxico” não existiria já no português do Brasil, com o significado de “costura mal acabada, provisória”.