[ Coração Habitado ]

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam
que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

in Até Amanhã
de Eugénio de Andrade


17.10.08

Júlia Côta | Barcelos
















Filha da ceramista famosa Rosa Côta e neta de Domingos Côto (o pai do galo de Barcelos) , Júlia Côta entrou cedo na arte da argila, ajudando a mãe em seus trabalhos e aprendendo com ela as técnicas e as inspirações deste tipo da arte. Modelando a vida na argila, e dando rédea livre à imaginação para produzir figuras de animais, retratos e figuras religiosas, geralmente reinterpreta-as numa mistura do respeito e imaginário, ou em representação de cenas do trabalho e do jogo da vida rural. Estes são alguns dos exemplos da variedade da simplicidade dos objectos, dos temas e das cores do que nós chamamos normalmente as figuras de Barcelos.
Júlia Côta é uma de poucas artistas que cría, recria e pinta as FIGURAS, o que lhes dá um carácter do originalidade possuindo uma marca muito pessoal.