“Foge Foge Bandido é um projecto de longa data, que foi ficando com o tempo de sobra. São músicas que eu fiz, algumas têm 10 anos e que fui gravando e agora estou a acabar o trabalho. Fui convidando, aparecia gente em minha casa, aquilo no início não era um projecto, eram músicas, aparecia um gajo em minha casa que até podia nem ser músico e íamos curtir para o teclado, gravávamos umas coisas. Ou tinha uma música e gravavam um teclado por cima. Muitas eram coisas que já tinha feito, outras eram brincadeiras que fazíamos numa noite e que eu depois desenvolvia, então acaba por ser um projecto experimental, apesar de serem canções na mesma, porque, pá, não consigo separar-me das canções. Canções com arranjos muito mais diferentes dumas músicas para as outras. Ali vale um bocado tudo, não é como nos Pluto que não vale, mas é um projecto experimental, digamos assim, mais caseiro.”
Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.
Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.
Alguns pensam
que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.
Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.
in Até Amanhã
de Eugénio de Andrade