[ Coração Habitado ]

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam
que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

in Até Amanhã
de Eugénio de Andrade


30.9.08

Maria Madeira






Maria Luísa da Conceição Palmela | Estremoz

















Maria Luísa da Conceição - "pela dignificação dos bonecos de Estremoz”.

Maria Luísa da Conceição nasceu na cidade de Estremoz em 1934. Desde o seu nascimento que tomou contacto directo com o barro, já que seu pai era neto do fundador da Olaria Alfacinha (1868 -1995), Caetano Augusto da Conceição. Seu pai, mestre Mariano da Conceição, além de um exímio oleiro, foi quem fez renascer os bonecos de Estremoz, por intermédio de Sá Lemos, director da Escola de Artes e Ofícios de Estremoz, obtendo os conhecimentos para tal de uma velha bonequeira chamada Ana das Peles.
Depois da morte de seu pai (1959), foi sua tia Sabina Santos quem tomou nas mãos a continuidade da tradição bonequeira, e sua mãe, Liberdade da Conceição, um ano depois, decide também ela começar a modelar. Foi aos 6 anos de idade que Maria Luísa ajudou pela primeira vez sua mãe a pintar, quando esta preparava um conjunto de bonecos para irem para a Exposição do Mundo Português, em 1940.
Mais tarde, já nos anos 80, após sua tia Sabina se reformar, Maria Luísa da Conceição ocupa a antiga oficina desta na Rua Brito Capelo, deixando de fazer os bonecos na sua cozinha, como até aí tinha feito. Começa, então, de forma mais sistemática, a reproduzir os bonecos que tinha visto gerações da sua família fazerem.

A qualidade do seu trabalho foi reconhecido em Vila do Conde, no ano de 1991, com o 1º Prémio para melhor peça de artesanato, e em Janeiro de 2007 o 1º prémio para melhor peça na Exposição de Presépios, promovida pelo Museu de Viana do Castelo.

Deste 2007 possui a Carta de Reconhecimento de Artesãos do Concelho de Estremoz.
Em Agosto de 2008 recebeu a Medalha Prata de Mérito Municipal, da parte da Câmara Municipal de Estremoz.

Nacional e transmissível

Portugal















"Neste livro, o autor, Eduardo Prado Coelho, escreve sobre objectos, comportamentos, locais emblemáticos ou características que formam o que poderíamos chamar a idiossincrasia portuguesa."

Confiança

Braga















A Saboaria e Perfumaria Confiança foi fundada em Braga, Norte de Portugal, a 12 de Outubro de 1894, por Silva Almeida e Santos Pereira.

Inicialmente especializada no fabrico de sabão do tipo offenbach, rapidamente se criou uma associação a qualidade aos produtos da Confiança. Tal permitiu atingir uma reputação invejável. A empresa vendia sobretudo em Portugal e nas então colónias Portugueses.

No início do século XX, os produtos de Perfumaria e Cosmética usados na altura eram maioritariamente importados, não havendo capacidade e domínio do sector em Portugal.

A reputação alcançada no sabão, permite à Confiança emancipar-se e inverter tal situação. É desta forma que empresa surpreende o mercado com produtos de cosmética de elevada qualidade, fabricados em Portugal. Em 1910 são desta forma lançadas as primeiras marcas próprias, com designs e fórmulas originais adaptadas. Sinal de qualidade e de reconhecimento que permitiu, juntamente com o fim da 1ª Grande Guerra, um novo período de forte expansão na Confiança, e que se traduziu no desenvolvimento de negócios, no aperfeiçoamento técnico dos aspectos produtivos e na conquista de novos mercados. Assim se concretiza a ampliação das instalações fabris, que incluem uma tipografia e uma cartonagem, onde se produziam todas as embalagens.

Em 1919, a gama de produtos produzidos e comercializados pela Confiança extendia-se a sabonetes perfumados, finos, transparentes, pó de arroz, águas de colónia, sabonetes medicinais, extractos extrafinos e óleos provenientes das então colónias Portuguesas.

A partir de 1920 a presença dos produtos Confiança atingia já todo o território nacional incluindo as ilhas dos Açores e da Madeira. A investigação e o desenvolvimento dentro da Confiança culmina com o registo de várias patentes de processos de fabrico e formulações químicas.

Em 1928 fabricavam-se cerca de 150 marcas diferentes de sabonetes, pó de arroz, cremes, pastas dentríficas, stiques de barbear, águas de colónia, loções e essências.

Nos anos 80 a Confiança começa a desenvolver novos cosméticos, adaptando fómulas e oferecendo outras novas, em especial nas formas líquidas de gel de banho e champôs perfumados, como resposta aos novos estilos de vida que se começam a impôr e ao pedido incessante de novos produtos por parte dos seus clientes.

A melhoria dos produtos existentes, em termos de embalagem e de oferta, assim como o desenvolvimento de novos, têm vindo a ser uma constante na Confiança. Respeitando sempre as origens e os métodos tradicionais, passados entre gerações.

As influências artísticas da Art Nouveau e da Art Déco que se fizeram sentir nos anos 20, estão ainda bem patentes nos produtos clássicos da Confiança. Reflectindo-se, por exemplo nos originais cunhos usados para dar forma aos sabonetes. Este foi e continua a ser um passo importante de todo o processo de criação e desenvolvimento dos novos produtos. A combinação da forma, às características do sabonete e à embalagem, é uma arte na Confiança passada entre gerações. Assim se conserva toda a sua essência.

29.9.08

Mariela Dias






















" Cor, forma, textura, desenho... e surgem aquelas que tudo podem levar e guardar, deixando transparecer emoções, sentimentos repletos de cor e albergando segredos.
Reflecte-se uma leitura de pormenor da cultura portuguesa, com incidência nos desenhos de motivos florais – harmoniosos, fluidos – que se conjugam com novas técnicas e materiais actuais, criando um objecto de uso diário mas que transmite uma certa elegância capaz de as transportar para uma realidade distinta, mantendo o conceito. Uma forma delicada e feminina, numa extensão do próprio corpo... "

Mariela Dias | Gonçalo Gonçalves

28.9.08

AML · Armindo Moreira Lopes & Filhos, Lda.


















Armindo Moreira Lopes (Ermesinde/Alfena), produtor de brinquedos em Portugal, nos anos 40 / 70, é o último dos fabricantes a manter todos os cunhos dos brinquedos de chapa, 365 – tantos quanto os dias do ano.

Liliana Guerreiro
















A renovada arte da filigrana.

António Ramalho | Barcelos

















Rosa Ramalho, Júlia Ramalho, António Ramalho - 3 gerações

Aliança Artesanal

Minho
















É provável que a origem dos "lenços dos namorados" ou "lenços de pedidos" esteja nos lenços senhoris do sec. XVII - XVIII, adaptados depois pelas mulheres do povo, dando-lhe consequentemente um aspecto característico.
Antes de tudo, eles faziam parte integrante do traje feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa. Eram lenços geralmente quadrados, de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.
Mas não é enquanto parte integrante do traje feminino que nos interessa , mas a sua outra função, não menos importante, e da qual vem o nome: a conquista do namorado.

A moça quando estava próxima da idade de casar confeccionava o seu lenço bordado a partir dum pano de linho fino que porventura possuía ou dum lenço de algodão que adquiria na feira, dos chamados lenços da tropa.
Para realizar esta obra, a rapariga utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz, adquiridos na infância, aquando da confecção do seu marcador ou mapa.

Depois de bordado o lenço ia ter às mãos do "namorado" ou "conversado" e era em conformidade com a atitude deste de usar publicamente ou não, que se decidia o início duma ligação amorosa.

Os lenços carregam consigo, por isso, os sentimentos amorosos duma rapariga em idade de casar, revelados através de variados símbolos amorosos como a fidelidade, a dedicação, a amizade, etc.Estes lenços eram originariamente em ponto de cruz, e por ser um ponto trabalhoso obrigava a bordadeira a passar, durante muitas semanas e mesmo durante meses os serões na sua confecção.

Como a escassez de tempo passou a ser um facto na vida moderna, a mulher deixou de ter tanto tempo para a confecção destes lenços, o ritmo de vida tornou-se mais intenso e a mulher teve que solucionar este problema adoptando no bordado outros pontos mais fáceis de bordar.
Com esta alteração outras se impuseram no trabalho decorativo dos lenços dos namorados: o vermelho e o preto inicial vai dar origem a uma grande quantidade de outras cores, e com elas novos motivos decorativos se impuseram. Os lenços não deixaram porém de ser ainda mais expressivos, acompanhados muitas vezes de quadras de gosto popular dedicados àquele a quem era dirigida tão grande fantasia: O Amado.

Mistério [Filhos] | Barcelos














Mistério da terra, do barro, da tradição que inspirou modernistas, ...

25.9.08

Maria Cristina Pavia

Alentejo















80 anos de poder criativo - a arte do "fuxico"

... e a sua origem etimológica.
O termo chegou ao Brasil, vindo de África, da língua quicongo, uma língua africana falada pelos bacongos nas províncias de Cabinda.
Na sua origem diz-se “fuuzya” e significa “mexericar”, “segredar”. A palavra fundiu-se com o brasileiro e ficou “fuxico” com este significado. Resta saber se “fuxico” não existiria já no português do Brasil, com o significado de “costura mal acabada, provisória”.