[ Coração Habitado ]

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam
que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

in Até Amanhã
de Eugénio de Andrade


25.2.09

Áurea Praga









"Sempre tive difilcudade em desfazer-me de revistas e catálogos, mesmo tendo um ecoponto perto de casa. Acabam por acumular-se numa estante a rebentar pelas costuras, à espera duma segunda oportunidade.

Esta nova série de pregadeiras trá-los novamente à superfície, sendo que cada uma utiliza um pormenor da capa de revistas ou catálogos, emoldurado por mais um objecto reaproveitado, o fundo de uma lata."

Áurea Praga