Aqui estão as mãos. São os mais belos sinais da terra. Os anjos nascem aqui: frescos, matinais, quase de orvalho, de coração alegre e povoado.
Ponho nelas a minha boca, respiro o sangue, o seu rumor branco, aqueço-as por dentro, abandonadas nas minhas, as pequenas mãos do mundo.
Alguns pensam que são as mãos de deus, - eu sei que são as mãos de um homem, trémulas barcaças onde a água, a tristeza e as quatro estações penetram, indiferentemente.
Não lhes toquem: são amor e bondade. Mais ainda: cheiram a madressilva. São o primeiro homem, a primeira mulher. E amanhece.
in Até Amanhã de Eugénio de Andrade
25.2.09
Frágil
Peça concebida e executada por Susana Teixeira e Áurea Praga.
Prata e plástico (sete bolhinhas intactas e prontas a ser rebentadas em alturas de stress), fio em couro.