[ Coração Habitado ]

Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam
que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.

in Até Amanhã
de Eugénio de Andrade


5.2.09

Simão feito à mão
















Reaproveitando objectos que não desempenham mais a função para a qual foram criados, como caixotes de madeira, latas ou guarda-chuvas partidos em dias de temporal, o artista transforma materiais secundários através de um processo manual de valorização baseado na tradição luso-brasileira dos brinquedos artesanais, outrora tão populares. Formas e mecanismos são revisitados e apresentados com novas roupagens.

Apesar de as peças aqui expostas não poderem actualmente ser consideradas brinquedos, por não cumprirem as normas de segurança vigentes para o manuseamento por crianças, visto poderem apresentar arestas cortantes ou conter elementos de pequena dimensão que podem ser engolidas, a necessidade de interacção com as obras para accionar os seus mecanismos convida-nos a... brincar.

Simão Bolívar, Porto - 6 de Julho de 2007