Aqui estão as mãos. São os mais belos sinais da terra. Os anjos nascem aqui: frescos, matinais, quase de orvalho, de coração alegre e povoado.
Ponho nelas a minha boca, respiro o sangue, o seu rumor branco, aqueço-as por dentro, abandonadas nas minhas, as pequenas mãos do mundo.
Alguns pensam que são as mãos de deus, - eu sei que são as mãos de um homem, trémulas barcaças onde a água, a tristeza e as quatro estações penetram, indiferentemente.
Não lhes toquem: são amor e bondade. Mais ainda: cheiram a madressilva. São o primeiro homem, a primeira mulher. E amanhece.
in Até Amanhã de Eugénio de Andrade
5.2.09
Serrote
Este é o décimo sétimo caderno das publicações serrote. O primeiro caderno serrote volta a ser reeditado, agora em amarelo e preto, tal como as páginas amarelas, as vespas, os papa-figos ou as máquinas das obras (tiragem de 1500 exemplares).